Homens, máquinas, amor e música

Sobre noites e dias. Capa. Reprodução
Sobre noites e dias. Capa. Reprodução

 

Sobre noites e dias [Diginóis, 2014, R$ 25,00 na Livraria Poeme-se], novo álbum de Lucas Santtana, é um disco que cai bem em qualquer momento: das ensolaradas Diário de uma bicicleta (Lucas Santtana/ De Leve) e Mariazinha Morena Clara (Lucas Santtana) às noturnas Montanha russa sentimental (Lucas Santtana) e Blind date (Lucas Santtana). Basicamente o trabalho retrata relações: entre seres humanos (entre si) e máquinas. Human time (Lucas Santtana) abre o disco falando, em inglês e francês, em “máquinas e seres complexos”, com adesão da atriz francesa Fanny Ardant (voz e tradução para o francês).

Em seu sexto disco, o artista continua esbanjando talento em várias frentes: é cantor, compositor e instrumentista (pilota harmônio, baixo synth, cavaquinho, violão, digital drums, melotron, guitarra e cordas), joga nas 11 com igual desenvoltura, versando em português, na maioria das faixas, mas também em inglês, francês e espanhol – o poliglotismo justificado pela boa aceitação da obra de Santtana lá fora.

É um disco que atualiza o amor, retratando sua vivência em dias atuais. “Mas se rolar um clima/ ele beija ele/ ela beija ela/ para eles o amor é livre/ ela não é gay/ ele não é viado/ e não são mais classificados”, prega o Funk dos bromânticos (Lucas Santtana), faixa que conta com a presença da atriz Camila Pitanga (beatbox).

“Todo mundo na montanha russa sentimental/ burilando seu smartphone emocionado/ todo mundo quer viver romance como no cinema/ doce ilusão, vida real e seus problemas”, constata Montanha russa sentimental, dedicada a Lulu Santos, autor de O último romântico.

Sobre noites e dias é acentuadamente eletrônico, mas no pop de Lucas Santtana cabem também o violão sete cordas de Luis Filipe de Lima e o contrabaixo de Bi Ribeiro (Paralamas do Sucesso) em Partículas de amor (Lucas Santtana e Gui Amabis), inspirada canção, versando sobre o eterno tema deste universo: “Ao te conhecer, desacreditei/ como pode uma mulher assim?/ Toda solar, me derreteu/ Virei água do mar, evaporei/ Agora eu sou partículas de amor”, começa a letra. Em Alguém assopra ela (Lucas Santtana), o maestro Letieres Leite, baiano como Lucas, assina o arranjo de sopros e regência. Aos sintetizadores predominantes no disco juntam-se clarinete (Pedro Robatto), flauta (André Becker), oboé (Gustavo Seal) e fagote (Jeã Marques).

Músicas de pista – de dança ou de asfalto – Diário de uma bicicleta (Lucas Santtana e De Leve) e Mariazinha Morena Clara (Lucas Santtana) contam com as adesões de De Leve (voz), a primeira, e Kiko Dinucci (guitarra) e Thiago França (sax alto, sax tenor e arranjo de sopro), a segunda. As faixas evocam o sol dos dias do título do álbum. Cantada em português, a primeira tem refrão em inglês, abrindo-a: “You, me, us/ and our friends/ sun, grass, bicycles/ and happens”. Na segunda, evocando a personagem-título, ele passeia por Holanda e Tailândia, preferindo o Brasil: “Vem que até a Guanabara em forma de baia/ quer rir pra ti/ sei que você vive na praia/ mas o sol que abraça só tem no Brasil”. As faixas ainda guardam semelhanças nas citações de craques do futebol: numa o brasileiro Robinho, noutra o holandês Van Persie.

Sobre noites e dias foi financiado através de crowdfunding – a arrecadação superou as expectativas. Aos que investiram na iniciativa, Santtana agradece no encarte, “a todos que colocaram sua fé nesse disco mesmo antes de ouvi-lo”. Após cinco discos e tornando este sexto seu melhor álbum até aqui, o investimento e a crença são mais que merecidos.

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