Os 12 discos mais lembrados da música do Maranhão

[Vias de Fato, abril/maio de 2013]

No ano em que completam 35 anos os discos Bandeira de Aço, de Papete,  e Lances de Agora, de Chico Maranhão, lideraram as lembranças de 11 pessoas do meio musical convidadas a votar em uma lista para o Vias de Fato

POR CELSO BORGES E ZEMA RIBEIRO

Esta lista já estava virando lenda. Da ideia às páginas que ocupa nesta edição do Vias de Fato já se vai mais de meio ano. O escritor Bruno Azevêdo já a havia citado em um texto [Homem lúcido e perigoso se dirigindo para o centro da cidade, O Estado do Maranhão, Alternativo, 15/12/2012] sobre Z de Vingança, de Marcos Magah, cuja prensagem pagou do bolso e em que votou em sua lista afetiva. “A ordem é alfabética que meu coração não hierarquiza”, afirmou sobre sua seleção.

O “amadurecimento” da lista ao longo desses seis meses (e pouco) não significa sua “melhora”. Certamente alguns dos convidados a votar mudariam alguns votos, se o convite surgisse hoje. Ou se, sabe-se lá, surgisse daqui a seis meses. Ou ainda se estivéssemos agora vendo uma lista publicada há seis meses ou um ano. Tanto faz.

Lista é foda: sempre excludente. Não tem como: fica um monte de gente boa de fora, mas é um exercício para reflexão e muita, muita discussão e polêmica, principalmente em mesa de bar – ou apenas por lá? O que vão falar mal não está no gibi, mas nem por isso vamos deixar de dar a cara pra bater – coisa que, aliás, o Vias de Fato sempre fez.

O jornal reuniu literalmente um time com 11 titulares ligados à música – djs, jornalistas, poetas, radialistas, escritores, pesquisadores e uma cantora (ainda inédita em disco) – para escolher os 12 discos mais importantes (há controvérsias) da música produzida no Maranhão nos últimos 40 anos (1972-2012). 12 o número médio de faixas de um vinil, se carece explicação, embora a lista no geral não soe saudosista.

Em 2013 completam-se 35 anos dos lançamentos dos discos Bandeira de Aço, de Papete, e Lances de Agora, de Chico Maranhão, que figuram na proa da lista final, embora esta, a lista, antes de elaborada não tivesse certeza de nada – embora seus idealizadores suspeitassem que eles liderariam a “eleição”.

Esta lista que o Vias de Fato ora publica acaba sendo, pois, a homenagem do jornal aos 35 anos destes discos, importantes não só para a música produzida no Maranhão. O primeiro acabou constituindo-se em um marco, por registrar pela primeira vez em disco obras de compositores fundamentais daqui – Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe – que ajudariam a definir o que se convencionou chamar, depois, de “música popular maranhense”; o segundo, até hoje nunca reeditado em cd, orbita em aura mística, por sua gravação na sacristia da Igreja do Desterro, em quatro dias, pelo lendário Marcus Pereira, que descobriu e registrou tanta gente boa Brasil adentro.

Homenagem – As comemorações não param nesta lista: no próximo dia 28 de maio, às 21h, no Teatro Arthur Azevedo, sob o manto já consagrado de sucesso do projeto BR-135, diversos nomes da nova cena musical do Maranhão interpretam o repertório de Bandeira de Aço em um tributo capitaneado, como o BR, pelo casal Criolina, Alê Muniz e Luciana Simões.

O show contará ainda com as participações dos “Compositores do Maranhão” – como consta na capa do vinil Bandeira de Aço – então gravados por Papete. Entre os novos nomes destaques para o duo Criolina, Afrôs, Bruno Batista, Dicy Rocha, Flávia Bittencourt e Madian. Na ocasião será apresentado ainda um documentário sobre o disco, assinado pelos jornalistas Andréa Oliveira, Celso Borges e Maristela Sena.

OS 12 MAIORES DISCOS DA MÚSICA DO MARANHÃO (1972-2012)

Bandeira de Aço, Papete, 1978, 10 votos > Este deve ser uma unanimidade. Puta discão, apesar das mil falhas e (talvez) também pelas polêmicas. É um disco que traça certa paisagem sonora e fica encravado na memória afetiva de quem teve contato com ele. (Bruno Azevêdo)

Lances de Agora, Chico Maranhão, 1978, 6 votos > Considero este um dos discos fundamentais da música maranhense. Poucas vezes um álbum reuniu tanta poesia embalada em ótimas melodias. (Ademar Danilo)

Cine Tropical, Criolina, 2009, 4 votos > O disco aponta os caminhos tropicalistas da paisagem sonora maranhense que encontra ecos no Caribe, Jamaica e outros portos musicais ameríndios e pós-coloniais, tudo com cores e brisas tropicais. (Alberto Júnior)

Bumba meu boi de Pindaré, 1973, 4 votos > Este disco pioneiro contém uma das mais brilhantes gravações já feitas de bumba meu boi. São as raízes maranhenses cantadas por Coxinho. Um mergulho profundo na alma rústica da nossa identidade. (Eduardo Júlio)

O som e o balanço, Nonato e seu Conjunto, 1975, 4 votos > O sucesso Cafua e outras pérolas habitam esse disco formidável que abre a seleta. Viva o maestro Nonato! (Franklin Santos)

Shopping Brazil, Cesar Teixeira, 2004, 4 votos > Autor de um sem número de clássicos da música maranhense, Cesar Teixeira já tinha mais de 35 anos de carreira, contados a partir dos primeiros festivais de que participou, ao estrear em disco solo, já tendo fornecido pérolas para o repertório de muita gente, daqui e de fora – por exemplo, o saudoso menestrel mineiro Dércio Marques, que registraria sua Namorada do Cangaço em Fulejo (1983). O compositor relê parte de sua vasta obra já registrada – Bandeira de aço, Flor do mal e Ray ban – e apresenta inéditas – Met(amor)fose, Vestindo a zebra e a faixa-título, composta ainda na década de 1970, quando o autor se deparou com o primeiro lixão ilhéu (e uma senhora que o habitava) –, além de homenagear “vodus” de nossa música: Antonio Vieira e Dona Teté (que participam do disco), Mestre Felipe e Dona Elza (que comparecem com excertos de gravações do tambor de crioula e do caroço, respectivamente), Rosa Reis (coro), Laurentino (citado em Mutuca) e João Pedro Borges (que assina o arranjo de Flor do Mal). Cesar mistura tradição e modernidade em pirão musical de farta sustança. (Zema Ribeiro)

Antoniologia Vieira, Vários, 2001, 3 votos > Interpretado por 16 vozes a obra deste compositor cuja carreira se sedimentou aos 80 anos contribui para esquadrinhar a trajetória da música popular feita no Maranhão num intervalo de 40 anos. Arranjado por Adelino Valente, o disco reúne as canções mais conhecidas de Antonio Vieira [nota do blogue: acima, no vídeo, a capa do disco; esta gravação não está em Antoniologia]. Os Ingredientes do Samba (música interpretada por Letice Valente) se sobressaem na obra deste compositor de letras simples, sem rodeios, como Na cabecinha da Dora. Sem o esmero da tecnologia, a gravação ganha ainda mais valor como registro. (Henrique Bóis)

Balaio, T. A. Calibre 1, 2002, 3 votos > Costelo (vocais), Ramuzyo (baixo), Christian (guitarra) e Franklin (bateria) fizeram um disco que propõe um diálogo mais próximo entre o hip hop e os ritmos de cultura popular maranhense. (Celso Borges)

O Boizinho Barrica, Boizinho Barrica, 1988, 3 votos > A brincadeira de rua vai para o estúdio e registra os nossos principais ritmos populares: o boi e seus vários sotaques, o divino, o coco. Um disco que também é fundador, para o bem e para o mal. Para o bem porque tem lindas composições de Godão e Bulcão. E para o mal porque abriu a porteira para o chamado boi de butique. Sugiram mais de 30 diluindo e empobrecendo o que o Barrica inaugurou. (Celso Borges)

Claudio Lima, Claudio Lima, 2002, 3 votos > Um disco que ouvi muito, e até hoje me pego botando na vitrola pra cantar Ray ban (Cesar Teixeira) e a “puta que pariu” que a Rádio Universidade censura. Pensa pra fora e grita alto, com um pé dentro, mas só um pé, que quem coloca os dois se atola! (Bruno Azevêdo)

Eu, você e a cidade, Nicéas Drumont, 1982, 3 votos > Natural de Rosário, Nicéas Drumont morreu cedo, aos 39 anos. Deixou mais de 100 composições e foi gravado, em vida ou postumamente, por nomes como Alcione, Leandro e Leonardo, Moacyr Franco, Nando Cordel, Nando Reis, Noite Ilustrada e Rosa Reis. Foi pioneiro ao registrar dois reggaes neste disco: Gavião vadio e Senzalas, com que tomou de assalto as rádios locais. (Zema Ribeiro)

Regueiros Guerreiros, Tribo de Jah, 1992, 3 votos > A banda de Fauzi Beydoun encabeça só pedras neste disco que é a cara dos Regueiros Guerreiros do Maranhão. Destaque também para a linda Neguinha. (Franklin Santos)

AS LISTAS COMPLETAS (SAIBA QUEM VOTOU EM QUE DISCOS) [incluindo a lista comentada deste blogueiro]

 

ADEMAR DANILO (jornalista e DJ)
Lances de agora (1978), Chico Maranhão
O Som e o Balanço (1975), Nonato e Seu Conjunto
Eu, você e a cidade (1982), Nicéas Drumont
Regueiros guerreiros (1992), Tribo de Jah
Diferente (2000), Célia Sampaio
Bandeira de Aço (1978), Papete
Bumba meu boi de Pindaré (1973)
Ilha magnética (s/d), César Nascimento
A peste negra do Nordeste (2003), Clã Nordestino
Nego Bantu (2000)
Tambor de Crioula do Mestre Felipe (1996)
Cine Tropical (2009), Criolina

ALBERTO JÚNIOR (radialista)
Cine Tropical (2009), Criolina
João do Vale (1981)
Bandeira de Aço (1978), Papete
Claudio Lima (2001)
O Boizinho Barrica (1988), Boizinho Barrica
Brincos (2009), Rosa Reis
Antoniologia Vieira (2001), vários intérpretes
Líricas (2000), Zeca Baleiro
Tecnomacumba (2008), Rita Ribeiro
Rosa semba (2012), Dicy Rocha
Eu, Você e a Cidade (1982), Nicéas Drumont

BRUNO AZEVÊDO (escritor)
Abraçando você (1980), Raimundo Soldado
Bandeira de aço (1978), Papete
Cláudio Lima (2001), Cláudio Lima
Em ritmo de seresta (1996), Júlio Nascimento
Lairton e seus teclados (2000)
O cantor apaixonado do povão (1989), Adelino Nascimento
Pet shop mundo cão (2002), Zeca Baleiro
Reggae Roots (s/d), vários intérpretes
Z de vingança (2012), Marcos Magah

CELSO BORGES (poeta e jornalista)
Bumba meu boi de Pindaré (1973)
Nonato e Seu Conjunto (1974)
Lances de Agora (1978), Chico Maranhão
Bandeira de Aço (1978), Papete
Pedra de Cantaria (1980), vários intérpretes
Tribo de Jah (1987)
O Boizinho Barrica (1987), Boizinho Barrica
Os pregoeiros (1988), Antonio Vieira e Lopes Bogéa
Boqueirão (1994), Giordano Mochel
Shopping Brasil (2004), Cesar Teixeira
Balaio (2004), T. A. Calibre 1
Criolina (2007)

EDUARDO JÚLIO (poeta e jornalista)
Bumba meu boi de Pindaré (1973)
Bandeira de Aço (1978), Papete
A Lenda do Rei Sebastião (1999), vários intérpretes
Lances de Agora (1978), Chico Maranhão
Pras Bandas de Lá (2003), Mystical Roots
Clássicos Latino-Americanos (2005), João Pedro Borges
Pensamentos Drobados (2008), Erivaldo Gomes
Cada Mesa é um Palco (2006), Cláudio Lima & Rubens Salles
Pérolas Negras (2003), Akomabu
Nego Ka’apor (2007)
Balaio (2004), T. A. Calibre 1
Candomblé do Maranhão (1997), Casa Fanti-Ashanti

FRANKLIN SANTOS (dj)
O Som e o Balanço (1975), Nonato e Seu Conjunto
Bandeira de Aço (1978), Papete
Engenho de Flores (1987), Josias Sobrinho
Regueiros Guerreiros (1992), Tribo de Jah
Por onde andará Stephen Fry? (1997), Zeca Baleiro
Rita Ribeiro (1997)
Quando dorme Alcântara (2002), Tião Carvalho
Pras Bandas de Lá (2003), Mystical Roots
Cine Tropical (2009), Criolina
Eu não Sei Sofrer Em Inglês (2011), Bruno Batista

GILBERTO MINEIRO (radialista e produtor musical)
Alô Brasil – Cristovão Colombo da Silva (1999), vários intérpretes
Nego Ka’apoor (2007)
Elefantes Azuis (1994), Mano Borges
Antoniologia Vieira (2001), vários intérpretes
Bumba meu boi de Pindaré (1973)
A peste negra do Nordeste (2003), Clã Nordestino
O som e o balanço (1975), Nonato e seu Conjunto
Panaquatira/Ponteira [compacto] (1983), Sérgio Habibe
Maranhão (1974), Chico Maranhão
O poeta do povo (1965), João do Vale
Parador (2012), Nosly
Criolina (2007)

HENRIQUE BÓIS (jornalista)
Lances de Agora (1978), Chico Maranhão
Bandeira de Aço (1978), Papete
Arrebentação da Ilha (1985), vários intérpretes
Tribo – Festival Maranhense de Música Popular (1990), vários intérpretes
Regueiros Guerreiros (1992), Tribo de Jah
Nonato e seu Conjunto (1974)
Beto Pereira (s/d)
Engenho de Flores (1987), Josias Sobrinho
O Boizinho Barrica (1988), Boizinho Barrica
Shopping Brazil (2004), Cesar Teixeira
Balaio (2002), T. A. Calibre 1
Antoniologia  Vieira (2001), vários intérpretes

RICARTE ALMEIDA SANTOS (sociólogo e radialista)
Bandeira de Aço (1978), Papete
Lances de agora (1978), Chico Maranhão
Shoping Brazil (2004), Cesar Teixeira
Por onde andará Stephen Fry? (1997), Zeca Baleiro
Rita Ribeiro (1997)
Samba de minha Aldeia (2010), Lena Machado
Choros Maranhenses (2005), Instrumental Pixinguinha
Made in Brazil (2009), Robertinho Chinês
Eu não sei sofrer em Inglês (2011), Bruno Batista
Emaranhado (2008), Chico Saldanha

TÁSSIA CAMPOS (cantora)
O som e o balanço (1975), Nonato e seu Conjunto
Claudio Lima (2001)
Criolina (2007)
Comigo (2001), Rita Ribeiro
As aspas serão explicadas adiante (2002), Catarina Mina
Conforme prometi no Reveillon (2010), Djalma Lúcio
João Batista do Vale (1996), vários intérpretes
Iê Mamá (1996), Alê Muniz
O Calor do Tambor de Crioula do Maranhão dá o tom à cultura popular (1998), Mestre Leonardo
Bandeira de Aço (1978), Papete
Tambor de Crioula do Mestre Felipe (1996), Mestre Felipe
Positivo (s/d), Santa Cruz

ZEMA RIBEIRO (jornalista)

Bandeira de aço (1978) – O antológico disco de Papete até hoje embala, de crianças em berços e redes de dormir a quem balança os corpos nos arraiais da cidade, demonstrando a vocação festiva do povo maranhense. É um disco junino que pode ser ouvido o ano inteiro, quer animando festas, quer decorando conversas em mesas de bar: o trabalho cai bem em qualquer rito. Lançado pela gravadora Marcus Pereira, Bandeira de aço foi pioneiro ao registrar músicas de Cesar Teixeira, Josias Sobrinho, Ronaldo Mota e Sérgio Habibe, alguns de nossos maiores compositores, até então inéditos em disco.

Lances de Agora (1978) – Chico Maranhão teria pelo menos outros dois discos para figurar nesta lista: Maranhão (1974) e Fonte Nova (1980), que somados a este Lances de Agora formam a tríade fundamental de sua obra (embora nela nada seja dispensável). Os três discos foram lançados pela Marcus Pereira, mas concentremo-nos no escolhido. Lances de Agora foi gravado em três dias na sacristia da Igreja do Desterro, no centro histórico de São Luís do Maranhão, o que por si só já legou ao disco a aura de mitológico. O compositor das 11 faixas cantou acompanhado pelo Regional Tira-Teima, que reunia a fina flor da música instrumental maranhense da época: Ubiratan Souza, Chico Saldanha, Sérgio Habibe, Zezé Alves, Arlindo Carvalho, Antonio Vieira e Ronald Pinheiro, entre outros.

Shopping Brazil (2004), Cesar Teixeira

Emaranhado (2007) – Qualquer dos três discos lançados por Saldanha poderiam figurar nesta lista. Emaranhado apresenta-nos o vigor criativo do autor de Itamirim, clássico junino absoluto. Gravado e produzido meio aqui, meio em São Paulo, o disco fica entre Rui Mário e Adriano Magoo (sanfonas), entre Luiz Jr. e Zeca Baleiro (direção musical), entre Luiz Jr. e Tuco Marcondes (violões), sendo (também) por isso um disco plural. Se sua música mais conhecida não foi revisitada, o autor dá nova roupagem, em tom intimista à Linha puída, sua música mais regravada, num dueto de arrepiar com a talentosa Lenita Pinheiro, esposa de Josias Sobrinho; com este, divide os vocais em É tudo verdade, a que comparecem também Gerude e Inaldo Bartolomeu. A faixa título é um boi de zabumba cantado em dueto com Zeca Baleiro e o disco ainda traz blues, balada e choro.

Cine Tropical (2009) – O casal Alê Muniz e Luciana Simões já tinham carreiras artísticas sólidas quando se casaram no cartório e na música. Tornaram-se um só corpo – com duas vozes bem distintas – no duo Criolina, nome que alude a poderoso desinfetante – quiçá para lavar a alma dos ávidos por boa música – e ao popularíssimo por estas plagas tambor de crioula. Este segundo disco brinca com nossa cinematografia e o resultado é uma trilha sonora caliente y mui brasileña. Ecos de reggae, rock, jovem guarda, merengue, brega, aliados aos ritmos populares do Maranhão num disco universal. O colorido do disco não se restringe ao projeto gráfico.

Eu, você e a cidade (1982), Nicéas Drumont

Dente de ouro (2005) – Josias Sobrinho revisita parte de sua obra, recheada de clássicos como a faixa título, Catirina e Engenho de flores, para citar algumas das gravadas por Papete em Bandeira de Aço (em que gravou também De Cajari pra capital, que ficou de fora). A estas, apresenta composições inéditas (A flor do baobá, Trilha sanfoneira) e outras pérolas de seu repertório: Rosa Maria (com participação especial de César Nascimento), O biltre (Lenita Pinheiro e Zeca Baleiro), A lida do vaqueiro (com Papete) e As “perigosa”. Dirigido por Marcus Vinicius de Andrade – assistente de Marcus Pereira em sua pesquisa do cancioneiro nacional (e também um habilidoso cantor, como demonstra seu Nordestino, história para outra oportunidade). Dente de ouro é uma coletânea com seleção de repertório do próprio autor, primeiro registro de Josias Sobrinho em que a qualidade técnica não limitou a magnitude de sua vasta e bela obra.

Samba de Minha Aldeia (2010) – Lena Machado reuniu a velha guarda e a jovem vanguarda da música maranhense em disco de nome apropriado. O disco é literalmente uma “escola de samba”, em que comparecem professores e alunos aplicados. No primeiro time, nomes como Cesar Teixeira (Botequim), Joãozinho Ribeiro (Tempo mau), Josias Sobrinho (De Cajari pra capital) e Patativa (Colher de chá); no segundo, Chico Canhoto (Ousadia), Aquiles Andrade (Promessas), Gildomar Marinho (Gracejo), Chico Nô e Ricarte Almeida Santos (Chorinho de herança).

Boqueirão (1994) – Giordano Mochel é uma espécie de Caymmi do Maranhão. A comparação é inevitável se tivermos em mente que este é o único disco lançado até aqui de um artista envolvido com movimentos musicais desde fins da década de 1960. Suas praias e abaetés são os rios e campos da baixada, cantados em versos e melodias neste registro de exceção: disco geográfico que ousa vangloriar-se das belezas da terra natal sem soar pedante ou ufanista. Soa simplesmente bonito e desperta lembranças e vontade de voltar em quem conhece a região cantada e de conhecer a quem não.

Rumo Norte (1979) – Outro registro que devemos creditar à conta dos Marcus, Pereira e Vinicius. A codoense Irene Portela gravou em São Paulo um disco com repertório meio autoral e meio João do Vale. Do conterrâneo registrou as seis faixas do lado a: De Teresina a São Luís (curiosidade: no vinil o percurso do trem musical foi grafado ao contrário), Sanharó, Sabiá, Nécio Costa (por nós conhecida como Bom vaqueiro), Passarinho e Fogo no Paraná; no lado b, Irene Portela apresentava-se como compositora: Lua Peixe, Até quando?, Dia de festa, Alcântara, Folha verde, Na hera dos muros e Guerreiro. A reedição em cd, hoje também esgotada, trocou a ordem das faixas, intercalando composições da intérprete e de João do Vale, e acrescentou duas: Sonhos que são águias (de Irene Portela, abre o cd) e Tear das Melodias (idem, que o encerra).

Célia Maria (2001) – Inteiramente arranjado por Ubiratan Souza, este único disco de Célia Maria reúne músicas de compositores conterrâneos de sua predileção a nomes nacionais. No segundo time estão Chico Buarque (Retrato em branco e preto, parceria com Tom Jobim, e Beatriz, parceria com Edu Lobo); no primeiro, João do Vale (Na asa do vento, parceria com Luis Vieira), Luís Bulcão (Couro de gato), Joãozinho Ribeiro (Milhões de uns), Cesar Teixeira (Lápis de cor), Ubiratan Souza (Quatro estações), Antonio Vieira (Ingredientes do samba), Chico Maranhão (Meu samba choro) e Bibi Silva (Lágrimas). Um registro primoroso, hoje esgotado e infelizmente ainda pouco conhecido, como a intérprete, dentro e fora do Maranhão.

Choros maranhenses (2005) – Formado por professores da Escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa, o Instrumental Pixinguinha foi pioneiro ao lançar Choros maranhenses, o primeiro disco gravado nestas plagas inteiramente dedicado ao gênero imortalizado por, entre outros, o batuta que empresta nome ao grupo. A seleção traz composições de antigos chorões maranhenses, já falecidos, e peças autorais dos integrantes do grupo: Domingos Santos (violão sete cordas), Juca do Cavaco, Nonatinho (pandeiro), Raimundo Luiz (bandolim) e Zezé Alves (flauta).

30 respostas para “Os 12 discos mais lembrados da música do Maranhão”

  1. todos os discos sem dúvidas são os melhores, só acredito que os discos de João do vale e o disco Haicai deveriam ser lembrados

  2. joelson, a lista é fruto da soma das listas dos 11 votantes, que são listas pessoais. joão do vale foi lembrado por alguns, sem conseguir somar votos suficientes para figurar na lista final, o que certamente não lhe tira o mérito de ser um dos maiores compositores do maranhão em todos os tempos, nem o de ter feito discos belíssimos, antológicos. se o “haicai” é o “as aspas serão explicadas adiante” (“haicai” é título de uma das faixas), ep da saudosa catarina mina (de bruno azevêdo, djalma lúcio e eduardo patrício), este teve apenas um voto, da cantora tássia campos. um convite aos leitores, para o debate e a polêmica, risos: que tal deixarem suas listas aqui? ou, quem tiver blogue, publicar uma no seu? abração!

  3. Já acostumada a ser saco de pancadas quando a música maranhense é, de alguma forma, pauta de bate-papo, a Rádio Universidade afirma categoricamente que jamais “censurou” o “puta que pariu” da introdução de “As vitrines”, do CD de Cláudio Lima, apesar das suspeitas do grande Bruno Azevedo. O palavrão está lá, sonoro, pra todo mundo ouvir, desde o dia em que a música foi passada para o computador da emissora, isso em 28 de novembro de 2001. A data está registrada no computador para quem quiser ver, ok?

    1. Eu sou irmã dela,somos de Codó,em 1967 fomos para São Luis,depois para Teresina,e a Irene foi para São Paulo tentar a carreira de cantora,eu era muito pequena na época,não lembro de muita coisa,nosso pai se chamava Inácio Cesar de Miranda e nossa mãe Anália Portela de Miranda,

  4. Caro Zema, ai está minha lista, claro que é impossível colocar só dez discos entre os melhores mas esses são os meus favoritos, abraço.

    Bandeira de Aço, Papete
    João Batista do Vale (1996), vários intérpretes
    Engenho de Flores (1987), Josias Sobrinho
    Antoniologia Vieira (2001), vários intérpretes
    Bumba meu boi de Pindaré (1973)
    Regueiros guerreiros (1992), Tribo de Jah
    Pensamentos Drobados (2008), Erivaldo Gomes
    Haicai, Catarina Mina
    O Boizinho Barrica (1988), Boizinho Barrica
    Shopping Brasil (2004), Cesar Teixeira

  5. obrigado, paulo!
    alberto, como grande parte da música maranhense, irene portela carece de registro e memória. eu mesmo sei pouco ou quase nada, além do disco que marcus pereira lançou em 1979, o ótimo “rumo norte” que citei em minha lista. aí está o link para download do disco, onde se pode ler o texto da contracapa: http://www.forroemvinil.com/irene-portela-rumo-norte
    joelson, obrigado pela participação e pela lista. que outros leitores apresentem as suas.
    abraços a todos!

  6. E de suma importância essa pesquisa musical, una verdadeira enciclopédia desse emaranhado de artistas com sua contribuição fonográfica. Saudações a toda equipe!

diga lá! não precisa concordar com o blogue. comentários grosseiros e/ou anônimos serão apagados