Do assassinato de Décio Sá

A morte parece ser a única forma de anistia ampla, geral e irrestrita. Parentes e amigos vão guardar o lado bom e preferir lembrar o sorriso do falecido, os momentos alegres de convívio. É sempre assim com quem quer que seja.

Não digo isso com ironia, a hora não é para brincadeiras ou desrespeito à memória de quem se foi de forma brutal e covarde.

O jornalista Décio Sá foi executado com seis tiros à queima-roupa na noite de ontem, em um bar na Avenida Litorânea. A arma utilizada é de uso exclusivo da Polícia Militar e tem o mesmo calibre ponto 40 com que, por exemplo, o Grupo Tático Aéreo disparou, semana passada, contra dois adolescentes da Vila Passos, que empinavam papagaios nas imediações do viaduto do Monte Castelo, na Av. Camboa.

O crime contra o jornalista deve ser elucidado. Como qualquer crime contra qualquer pessoa. Como todo crime contra toda pessoa. Os responsáveis pelo crime contra o jornalista devem ser punidos. Como devem ser punidos os que atiraram nos adolescentes. Como devem ser punidos os que atentam ou intentam atentar contra a vida de quem quer que seja.

Embora não concorde com a maioria dos adjetivos dispensados à Décio Sá, na cobertura de seu assassinato, em geral por amigos, admiradores e colegas de profissão, não ousarei discordar, a hora não é para isso, repito.

Mas permitam-me discordar das teses acerca da volta dos crimes de pistolagem e de encomenda ao Maranhão em pleno século XXI, assunto apregoado aqui e ali pela mesma cobertura. Não se trata de volta, pois os crimes de pistolagem e encomenda sempre estiveram por aqui, nunca se foram, nunca deixaram de existir.

Basta lembrar de mártires recentes como Flaviano Pinto Neto ou mais antigos como Pe. Josimo Tavares, entre tantos outros. Crimes precisam ser investigados. Pistoleiros, matadores de aluguel, assassinos, enfim, precisam cumprir suas penas, “aqui na terra como no céu”.

A polícia tem a obrigação, o dever de encontrar e punir os executores (e mandantes, caso existam) de Décio Sá. Como merecem punição os assassinos de Marcos Paulo das Neves Gaspar, o Rato 8, também executado a tiros na mesma Litorânea “palco” da execução do jornalista de O Estado do Maranhão, e tantas outras vítimas da impunidade geral e irrestrita que reina absoluta por estas plagas.

À família e amigos de Décio Sá, os sinceros pêsames deste blogue, comprometido com a verdade, a justiça e a defesa intransigente dos direitos humanos. Luto oficial de quantos dias a governadora Roseana Sarney porventura venha a decretar não basta. O luto tem que ser feminino, pela elucidação do crime e punição dos responsáveis, para que se acabe (ou ao menos se comece a diminuir) o clima reinante de insegurança, injustiça e impunidade.

13 respostas para “Do assassinato de Décio Sá”

  1. Concordo plenamente Zema, o Décio foi mais uma vítima da pistolagem que reina no nosso estado. Espero que o caso dele, assim como o do líder sindical Raimundo Alves Borges, morto em Buriticupu este mês, sejam desvendados e devidamente punidos, e que seja assim com todos que citastes e que acontecem e aconteceram em no Maranhão. Que forças tarefas sejam criadas para desvendar todos estes crimes, não só o da noite passada. Que a justiça seja feita a toda pessoa, seja ela quem for.

  2. Zema, lei muito seu blog, quase diariamente, e estava preparando um pequeno texto para circular nas redes sociais e em meu blog, mas sinto-me amplamente confortado pelo seu belíssimo texto! … Arrancou-me as palavras… Acho que é isto! … Temos que ter uma postura radicalmente intransigente na defesa do humano e de seus valores mais dignos possíveis… Contra a barbárie e esta estrutura mafiosa que se organizou no país e no Maranhão que reduz à política ao gângsterismo!

  3. obrigado, meus caros, pela leitura e comentários. décio é mais uma vítima, com algum privilégio (o da repercussão), por ser do meio (jornalístico). queremos as devidas punições no caso dele, bem como para quaisquer outras que aconteçam/acontecem em qualquer lugar, contra os mais humildes e os sem vez e voz. abraços!

  4. Zema, todos os homens que revelam alguma injustiça que esteja centrada no poder vigente, sempre morrem de modo cruel, pegos de forma inesperada, em praça pública. Isso para que sirva de lição, para que tenham medo de desvendar os segredos por trás dos bastidores da política, e para que todos os que se comovam com a discrepância e queiram amenizar a dor do mundo por atos heróicos sejam parados. Foi assim na civilização egípcia, em Roma com o Cristo, na Idade Média com Galileu, na moderna com os filósofos expulsos da ordem jesuítica, e na pós-moderna, em nossa Era da Informação, com todos aqueles que constituem a pequena elite “sem dinheiro”, a pequena “côrte” do rei, os notáveis informantes críticos do erro de nossa “Era da Informação”. Aqui no caso não estamos nos referindo à morte de um incólume jornalista de reputação ilibada, pois acredito que tenha tantos defeitos quanto qualidades, o que estamos pondo em xeque é, de fato, o ato de crueldade com que firmaram o sêlo do inconteste.

  5. é, gladys: não quero a injustiça pra décio, tampouco quero sua santificação. é, neiver, décio nada tinha em comum com os exemplos citados. ele era parte do grupo dominante, da elite, e como profissional, certamente tinha mais defeitos que qualidades. mas nada justifica este ato cruel, brutal, covarde. abraços!

  6. independentemente da indole do profissional de comunicação social (acima de tudo) que fora assassinado brutalmente, gostaria de agradecer pelas elucidações e que vc prestasse esse mecanismo de utilidade pública para mobilizar os profissionais de comunicação, afinal, isso torna esta profissao em nosso estado, infelizmente um caso de policia…Será se regredimos à ditadura?abraços e votos de q isso se espalhe nacionalmente.

  7. Logo nas primeiras horas da manhã de terça(24/04) Diana me dá essa notícia trágica”.Fiquei passada” (como se diz na gíria), mais do que isso…fiquei num mal estar estranho! Como todo mal estar, é difícil falar sobre , ainda mais esse que me soa estranho. Lembrei da fala instigante do Flávio Reis, que encobre e elucida ,que desvela o caos presenta na realidade e nos convoca a sair do lugar confortável de espectador. Assim no caso desse assassinato , não se trata só de desvendá-lo e punir os culpados, mas de se perceber a “moldura” e não fixarmos somente nas “pinturas”(Flaviano, Marcos Paulo, os adolescentes da pipa,Raimundo Alves…) uma mais grotesca que outra que nos chegam no dia a dia.
    Zema, você enviou “Do assassinato do Décio Sá “para o e-mail? É que gostaria de compartilhá-lo com algumas pessoas.

    Cinthia Urbano.

diga lá! não precisa concordar com o blogue. comentários grosseiros e/ou anônimos serão apagados