
Oscar Niemeyer (1907-2012) era comunista. Morreu sendo, convicto como um José Saramago, idem. Niemeyer era comunista em gestos como comprar uma casa – ou era um apartamento? – para o também comunista Luis Carlos Prestes. Ou ao projetar a casa de seu motorista, cravada nalguma favela carioca. Ou ainda ao dizer que dinheiro só servia para duas coisas: gastar e emprestar aos amigos e não cobrar.
Não sei se a grande mídia fica feliz ou triste com a morte de Niemeyer. A big old media poderia ter certo prazer pela morte de um comunista, num tempo em que isso está tão fora de moda – ou desvirtuado, para dizer o mínimo, embora não fosse este o caso de Niemeyer, um comunista autêntico e absoluto. O partido da imprensa golpista poderia, por outro lado, entristecer-se pela morte de um gênio, que há coisas que ninguém pode negar.
Não lembro a primeira vez que ouvi falar ou vi uma obra do arquiteto. Mas não canso de elogiá-lo como gênio por sua arte: a arquitetura que nos legou Brasília, a capital federal inaugurada por Juscelino Kubitschek em que, a cada vez que passo por lá, não canso de me sentir dentro de uma imensa obra de arte a céu aberto, com os versos de Caetano e Djavan ecoando na cabeça, o “céu de Brasília/ traço do arquiteto”, certamente o céu mais bonito que já vi, coisa de deuses, – que pouco importa que digam que comunistas são ou devem ser ateus – Niemeyer e o que ele foi encontrar agora.
São Luís tem uma obra de Niemeyer, a Praça Maria Aragão em que sempre dá prazer e orgulho pisar. Pelo pássaro arquitetado pelo gênio, pela visão linda que se tem 360 graus, pela homenagem à companheira de comunismo, a médica e militante maranhense. Não tivesse sido Jackson Lago apeado do Palácio dos Leões, capaz de à praça já ter sido anexado o Museu de Arte Contemporânea, cujo projeto foi a Niemeyer encomendado pelo então governador.
Início dos anos 2000 lembro-me de ter usado em um antigo computador de trabalho – época em que eu sequer tinha um em casa – uma proteção de tela, baixada no site da revista Trip. Era uma animação com rabiscos alçados ao status de grande arte que deixavam-nos pensando nas mais básicas ideias da concepção de Brasília, como se o arquiteto estivesse ali, invisível, desenhando para nós.
Dava até vontade de evitar as possíveis lesões por esforço repetitivo e, de hora em hora, parar um pouco o trabalho, só para ficar revendo seus desenhos, que ele, agora invisível, já não fará mais por aqui.
Uma coisa é certa: se Deus deixá-lo trabalhar, o céu estará ainda mais bonito quando a gente chegar por lá.

As fotos que ilustram este post, roubei-as, aquela, do blogue da Cynara Menezes, a Socialista Morena, e esta, do Facebook da jornalistamiga Gilda Lamita, agradecendo e abraçando a ambas.
Morre um histórico comunista e nasce muitos outros . Germinará sua semente fertil e produtiva.
assim seja, meu caro pedro. abraço!
“A vida é um minuto”
O triplo do meu tempo inda não daria a conta de 105 anos, tal idade ultrapassa o sonho de imortalidade de qualquer homem apaixonado pela vida.
Dei de ligar a TV, e como me doeu a morte do Oscar Niemeyer! Um contemplado pela sorte que se foi de forma natural após cumprir sua generosa existência – diria meu pensamento, mas sinto ainda que é como se fosse precoce ou um ato cruel da própria vida com a dele.
As palavras comoventes de Chico Buarque a ele derrearam as lágrimas que lutei em represar sem que nada mais pudesse fazer. Um homem rabiscando o papel como se fosse simples erguer da terra estranhas catedrais. Quando caminhei solitário por Niterói me demorei mais que o habitual naquela taça imensa de sorvete a qual chamam de disco voador, percebi a força do poeta do concreto.
Suas palavras marcantes sobre a existência, o cigarro amparado pelos dedos a troçar com leveza de qualquer saúde, a sobrancelha séria e serena… Faz pena sua partida, faz pena! Fez do seu tempo um escritório e do escritório um lugar pra pensar a vida. Um homem que inventava o sonho, mas sabia consegui-lo para projetar autênticas quimeras a se forjar ininterrupto. Ele enganou a todos que morreu, entrou naquele disco voador e partiu!
“Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito”.
César Borralho________________
césar, belo comentário sobre a partida do gênio. obrigado pela generosidade de compartilhá-lo conosco. abração!
Lamentar quando uma extraordinária existência se desfaz é uma maneira tímida de solenizar sua vida. Eu é que agradeço o espaço, a costura e a linha. Abraços Zema Ribeiro!
Peso! Para variar mandas bem, camarada.Valeu
césar e igor: obrigado, sempre! abraços!