com minha ida para o a tarde, não teve texto meu no jornal pequeno de ontem, como já era costume, minha coluninha ali ao canto inferior direito da página primeira classe. no jp de ontem, o jornalista e poeta paulo melo souza publicou uma entrevista com o poeta e jornalista antonio rezende, alvo também da coluna alça de mira, editada também pelo primeiro para o mesmo suplemento semanal jp turismo.
um poema do rezende, para que vocês não fiquem se indagando “sim, mas do que é mesmo que estamos falando?” e saberem que o cabra é bom:
ensaios de adeus
6
aceita o meu amor já carimbado
e o meu dinheiro minguado
agora, baby
tem que ser assim
não queira mais
do que eu te der de mim
mais um? pois não:
consulta
sabe, doutor…
eu vim aqui
pra ver se há cura
pra espasmos de ternura
com a mesma foto [divulgação] que ilustrou a resenha que fiz pro jp da sexta-feira anterior (8), saiu na tarde de anteontem, a entrevista abaixo, que este nem jornalista (ainda) nem poeta fez com o vocês já sabem antonio rezende.
mais uma vez, lá, o texto saiu sem assinatura.
*
Poesia na medida (a)certa(da)
O poeta tocantinense Antonio Rezende lança “Acerto de contas”, volume de poemas, em noite de autógrafos, logo mais, na Livraria Poeme-se (Praia Grande).
Antonio Rezende é um dos cinqüenta poetas-músicos-artistas que participaram do livro-disco “Música”, do poeta maranhense Celso Borges, lançado ano passado. Resgatando poemas escritos desde a década de 80, quando morou em São Luís e chegou a integrar a Akademia dos Párias – que causou algum barulho na cena poética da Ilha, à época – é a vez do tocantinense acertar contas poéticas com o público ludovicense. O livro tem os endossos (orelhas e textos de apresentação) de Fernando Abreu e Zeca Baleiro, além, é claro, do próprio Celso Borges. 112 páginas em papel reciclado – o que demonstra o compromisso do homem com questões que vão além do nada simples “fazer poesia” – trazem amostras de Rezende: o poeta se mescla com o fotógrafo e o resultado é este belo “Acerto de contas”. A noite de autógrafos acontece às 19h na Livraria Poeme-se (Rua João Gualberto, 52, Praia Grande). “Poeme-se”, aliás, é poema de uma linha, “Palavra de ordem”, escrito a quatro mãos com Ribamar Filho, o Riba do Poeme-se, proprietário do hoje famoso misto de sebo e livraria. A reportagem de A TARDE conversou com Antonio Rezende.
A Tarde – Rezende, conte-nos um pouco da fase em que tu moraste em São Luís.
Antonio Rezende – Morei em São Luís na década de oitenta, época em que a cidade não tinha o aspecto metropolitano de hoje. Aqui vivi momentos interessantes, sobretudo no aspecto cultural. Nas universidades e nas ruas, percebia-se a efervescência dos movimentos estudantil e artístico. Era um tempo de muita produção e engajamento, fundamental na construção do pensamento que tenho hoje a respeito do que é a poesia.
A Tarde – O que você vê de diferente entre aquele momento e hoje?
Rezende – O fato de ter deixado a cidade no início dos anos 90 é um inibidor de resposta minha nesse sentido, embora eu tenha acompanhado, ao longo dos anos, a evolução em todos os aspectos. Sempre vim a São Luís, geralmente a passeio ou para participar de alguns eventos. Tenho São Luís como minha segunda cidade, depois de Araguaína, que é onde nasci. Aqui fiz e mantenho muitas amizades. Sinto-me como se estivesse em casa toda vez que chego aqui. Hoje, a cidade é outra, bem diferente. Cresceu muito e passou por transformações que saltam aos olhos da gente, por mais imperceptíveis que pareçam aos olhos de quem vive aqui, enfrentando as correrias do cotidiano. Vejo uma São Luís com graves problemas sociais e infra-estrutura, que precisam ser resolvidos. Vejo poucas mudanças nas esferas de poder, principalmente nos aspectos políticos e de controle da mídia.
A Tarde – Como você resumiria “Acerto de contas”?
Rezende – Acerto de Contas é um livro que já deveria estar publicado desde os anos 90. Ele reúne um pouco do que produzi ao longo destes últimos vinte anos. É um livro de cunho existencialista, de auto-afirmação como poeta, que resgata um pouco dessa produção e marca um novo momento em minha vida como poeta e jornalista. Tenho alguns projetos de livros em andamento, de poesia, prosa e fotografia. Precisava fazer um acerto de contas com o meu passado de militância poética, sobretudo em São Luís, onde participei de vários movimentos. Sempre trabalhei com publicações coletivas, mas não tinha ainda um livro publicado. Agora tenho.
A tarde – Como no livro há poemas da década de 80, como foi chegar à seleção que o compõe? E quanto às fotos, foi fácil selecioná-las?
Rezende – O tempo esmerila bem a gente. A escolha e produção de poemas para um livro é sempre um parto difícil, quando se quer um resultado mais apurado, mais essencial, necessário. As fotos que ilustram o livro fazem parte de um acervo de imagens que tenho, com fotografias feitas em vários lugares do Brasil e que servirão de fonte para um livro que estou produzindo sobre peculiaridades dos lugares e do povo do nosso país.
A Tarde – O que significa para você o endosso de poetas do naipe de Celso Borges, Fernando Abreu e Zeca Baleiro ao teu trabalho?
Rezende – São poetas contemporâneos, que têm um compromisso maior com a palavra, com a poesia enquanto instrumento de culto da vida e do belo, mas também como instrumento provocador de mudanças na vida em sociedade. Além de amigos, com os quais convivi em momentos de parceria e produção literária, são figuras que representam algo de novo no que se faz em termos de poesia atualmente. Eu tenho um gosto enorme pela poesia falada e suas experimentações sonoras. Isso nos une. Acho que são bons parceiros e importantes expressões artísticas do Maranhão.
A Tarde – Lendo os textos de apresentação de teu livro, descobri que atuas como jornalista em Palmas/TO. Depois de abandonar três cursos na UFMA, você voltou à faculdade? Se sim, o que você percebe de diferente após ter passado por ela? Se não, voltaria a ela um dia?
Rezende – Retomei o estudo acadêmico de Jornalismo em Palmas, em 2005, mas tranquei o curso novamente. Trabalhei na área por muito tempo, atuando em redação de jornais e TVs. Mas hoje estou mais é empreendendo, trabalhando com assessorias e marketing político. Sinceramente, penso que se criou no país uma enorme indústria de diploma superior em quase todas as áreas, entre elas o Jornalismo. Sou dos que defendem a formação acadêmica, mas acho que diploma não é critério decisivo na essência do que é ser jornalista. A imprensa no Brasil é uma boneca fardada, com a maioria dos veículos nas mãos de grupos poderosos, situação em que o que prevalece é a linha editorial dos veículos. Muito pouco se faz de imprensa autêntica, libertadora e alternativa.
A Tarde – O que você espera desta noite de autógrafos, hoje? O que vai rolar, efetivamente?
Rezende – Esta noite de quinta promete. É um dia especial para mim, de reencontro com o público maranhense, de muita alegria e poesia falada, naturalmente.
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